Campanha da Fraternidade 2010
Foi lançada nesta quarta-feira de cinzas, início da Quaresma, a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2010, tendo como lema “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” e como tema “Economia e Vida”.
Promovida tradicionalmente pela CNBB, organismo que congrega os Bispos da Igreja Católica no Brasil, este ano, e já pela terceira vez, a CF assume caráter ecumênico sendo patrocinado pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – Conic, constituído pela Igreja Católica, Igreja Luterana, Igreja Episcopal Anglicana, Igreja Presbiteriana Unida e Igreja Ortodoxa Síria.
A campanha deste ano é o desdobramento e continuidade de campanhas anteriores da Igreja Católica, que desde a primeira Campanha da Fraternidade, em 1964, vem abordando temas relacionados com a defesa da vida nos seus vários aspectos como o social, do trabalho, ecológico e, mais recentemente em 2008, as questões da eutanásia, do aborto e das células troncos, e a partir de 1973 começou a demonstrar maior preocupação com a realidade sócio-político-econômica do povo brasileiro, marcada pela injustiça, exclusão e altos índices de miséria. O tema “Economia e Vida” reflete, pois, ambas as preocupações da Igreja Católica e das demais Igrejas Cristãs, unidas em torno do tema.
O objetivo geral da campanha, conforme o seu texto base, é "Colaborar na promoção de uma economia a serviço da vida, fundamentada no ideal da cultura da paz, a partir do esforço conjunto das Igrejas Cristãs e de pessoas de boa vontade, para que todos contribuam na construção do bem comum em vista de uma sociedade sem exclusão", distribuído em objetivos específicos a serem trabalhados nos níveis social, comunitário, eclesial e pessoal que levam à conscientização da responsabilidade de cada segmento na denunciação da “perversidade de todo modelo econômico que vise em primeiro lugar o lucro, sem se importar com a desigualdade, miséria, fome e morte”, bem como na propositura de ações alternativas para a implantação de um modelo que promova a justiça e a solidariedade.
Embora não esteja dentre os objetivos da CF, de modo explícito a preocupação com a corrupção que permeia a área da política, não há como se debater modelos econômicos perversos sem uma reflexão sobre este assunto. Pois, se por um lado o mercado dita as regras da economia são os políticos, com suas leis e atos administrativos, quem dão suporte e apóiam estas regras. E os “donos” do mercado financiam candidaturas e elegem seus representantes para defender interesses corporativos no Congresso Nacional, numa relação promíscua, em contraposição aos interesses do povo, especialmente dos mais pobres.
As ações da Campanha, a serem desenvolvidas durante todo este tempo quaresmal em todas as Dioceses e paróquias da Igreja Católica e nos organismos das Igrejas Cristãs participantes, certamente não poderão, também, se furtar de debater no contexto social dos municípios, onde estão inseridos os mais pobres e excluídos, a partir de sua realidade , as causas das injustiças que advêm não apenas de modelos econômicos mas sobretudo de práticas administrativas corruptas que desviam recursos que deveriam ser aplicados a serviço da promoção social e erradicação da miséria e da fome, com efeitos mais perversos sobre a vida da população do que mesmo a economia.
Pois é missão profética da Igreja denunciar todas as formas de injustiças contra o povo e convidar a todos a uma profunda reflexão sobre a necessidade de uma revisão de valores morais e éticos, à luz dos ensinamentos do evangelho, promovendo uma reconciliação dos homens com Deus no seguimento de Jesus e na prática da justiça.
(Em próximos artigos daremos continuidade a comentários sobre a Campanha da Fraternidade, abordando o lema “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”)
Por: Francisco Assis Mello
Nenhum comentário