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Valente: Seca provoca fuga para Minas e Mato Grosso; açudes estão vazios e 90% dos motores de sisal estão parados

Eles partiram em busca de serviços nos campos de café e cana-de-açúcar, nos estados de Minas Gerais e Mato Grosso. Dos mais de 200 motores de sisal existentes no município, cerca de 90% estão sem atividades e a tendência é que esse número aumente com a persistência da seca.

O fluxo migratório no campo crescer assustadoramente, gerando um colapso sem precedentes na já combalida economia local. Com as áreas de sisal e pastagens dizimadas, o gado morrendo de fome e sede, os tanques e açudes secos, quem não foi embora ainda pensa nisso a cada instante.

O sol escaldante no semiárido baiano vem provocando desespero no município de Valente, especialmente aos moradores dos povoados de Tanquinho, Queimada do Curral e Cipó de Leite, que estão com suas reservas hídricas totalmente secas.

Com uma população de 25 mil habitantes em uma área territorial de 384 km², o município vem convivendo com a seca desde o mês de julho de 2011, gerando a perda da safra de milho, feijão e mandioca. O resistente sisal, com suas folhas pontiagudas, que representa a maior sustentação econômica do município, apresenta-se murcho e queimado, destruído pelo sol, chegando ao ponto zero.

Motores desativados

Evandro da Silva Cunha, proprietário de um motor de desfibramento de sisal, que está há mais de dois meses desativado, ao lado de um pé de mandacaru, por falta de matéria prima, revelou que quando o tempo estava bom trabalhava com cinco pessoas e chegava a produzir 1.800 kg de fibra verde por semana, cerca de 900 quilos de sisal seco.

Na região de Lagoa Redonda mais de dez maquinas estão desativados e mais de 2 mil pessoas, segundo  estimativas, já abandonaram os campos de sisal no município. Evandro Cunha relata que a seca também está dizimando os rebanhos de bovinos, caprinos e ovinos e “os criadores estão todos quebrados”.

Responsável por transformar a planta em fibra, o motor de sisal, na fazenda Quatro Estrada, do pecuarista Rosélio Deodato Araújo, vem sendo usado na trituração de mandacaru e palma para os animais. O agricultor que já perdeu três vacas nos últimos dias, disse que vem investindo todos os meses, cerca de R$ 1.800,00 na aquisição de 30 sacas de torta de algodão, no balanceamento da ração composta de mandacaru, palma e milho.

A saca da torta que antes custava R$ 26,00 passou para R$ 60,00. Deodato disse ainda, que são gastos também, R$ 210,00 na compra de três carros pipa de água por semana. Na região do povoado de Queimada do Curral, uma carroça de água vem sendo vendida entre R$ 4,00 e 5,00, a depender da distância.

Ações do município

A estiagem é a maior dos últimos 40 anos. Não existe água potável em nenhum lugar do município. A prefeitura vem fazendo a limpeza dos mananciais e através de seis carros pipa levando água às famílias mais necessitadas.  Os motores de sisal estão parados e o povo se deslocando para outras regiões em busca de trabalho.

O prefeito Ubaldino Amaral manteve reunião com a Câmara de Vereadores e populares decidindo manter o São João, mas fazendo só dois dias de festa e cancelar os shows do cantor Leonardo e da banda Companhia do Calypso, dentre outros atrações que estavam previstas.

“Hoje não temos onde pegar um só caminhão de água potável para atender aos munícipes, não seria justo fazer festa cara com endividamento do município, deixando de atender as necessidades do nosso povo. A seca não atingiu só a zona rural e sim a todos com o empobrecimento da agropecuária e da agricultura familiar que estão dizimadas. Entendemos que precisamos fazer mais esforços junto ao governo do estado para que possamos trazer alternativas paliativas como cestas básicas e carros-pipa. É preciso que o governo estadual venha investir forte em ampliação de aguadas na região do semiárido para que no futuro não precisamos estar passando por essa agonia. Há mais de 10 meses a prefeitura vem investindo na aquisição de 1.000 cestas básicas/mês, para distribuir entre as famílias mas necessitadas” disse o prefeito Ubaldino Amaral.

Ele explicou ainda que a população de Valente está tendo água graças à adutora da Embasa, que abastece de 10 a 15 caminhões de água por dia. ”Água essa de péssima qualidade devido o alto teor de salubridade e que mesmo assim vem sendo consumida pela população por não ter outra opção. É preciso que a Embasa agilize a mudança da adutora de São José do Jacuípe que está com menos de 10% de sua capacidade, para a barragem de Pedras Alta, já que está com 90% dos trabalhos concluídos”.

Diz ainda o prefeito Ubaldino Amaral que os carros do Exercito que faziam a distribuição de água no município os serviços suspenso em função da falta de prestação de contas ao Ministério da Integração Nacional. “Fizemos o convênio de um carro pipa com a Cordec no valor de R$ 29.200,00 que ainda é muito pouco para a demanda de um município que já vem desde o mês de julho de 2011 colocando água para o povo. O problema não são os seis carros-pipa mantidos pela prefeitura e sim aonde pegar água” conclui Amaral

Por Pedro Oliveira – Tribuna da Bahia / Sucursal Regional em Coité (Foto: Pedro Oliveira).

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